Atender a legislação de segurança e saúde faz de você um profissional prevencionista?
- Leonardo S Mendes
- 21 de dez. de 2016
- 3 min de leitura
Há três meses estou dando aulas para cursos profissionalizantes de Técnico de Segurança do Trabalho, e o que mais me motivou para essa missão foi perceber no mercado que mais 90% dos profissionais de segurança, seja ele técnico ou engenheiro, baseia seu trabalho apenas no atendimento a legislação. O que era para ser apenas uma ferramenta para auxiliar em como as coisas devem ser feitas, se tornou o principal objetivo destes profissionais.
Para minha surpresa, o que eu achava ser apenas um vício de mercado, na verdade está sendo ensinado “desde o berço”. Em todas as turmas que eu ministrei, todos os alunos, sem exceção, não largavam o famigerado livro de NR.
Vendo isso, passei a iniciar cada turma com a seguinte pergunta: “Qual o principal objetivo de um profissional de segurança?”
A maioria esmagadora responde de primeira: “Garantir o atendimento da legislação de segurança”. Muda-se apenas o modo de responder: “Auxiliar as empresa no...”, “ Fazer cumprir a...”, mas a ideia é sempre a mesma, atender a legislação.
Lógico que atender a legislação é de suma importância, é obrigatório, mas não, esse não é o objetivo do profissional de segurança. O objetivo do profissional de segurança é “GARANTIR QUE AS ATIVIDADES SEJAM EXECUTADAS SEM PERIGOS, OU COM O MÍNIMO DE RISCOS POSSÍVEIS.”.
Ué, mas a legislação não torna isso possível? NÃO! A legislação não elimina, nem reduz riscos. A legislação apenas CONTROLA e MONITORA. Isso não é ser prevencionista, mas ser reativo!
Reparem que toda legislação é reativa. Ela espera que algo aconteça para que ela possa agir. Nenhuma lei me impede de matar alguém, mas se eu mato, a lei vem me punir. Quando trazemos essa lógica para a segurança do trabalho vemos que acontece da mesma forma. Nenhuma lei elimina perigo, apenas controla os riscos e monitora seu impacto no trabalhador.
Exemplo simples: Uso de EPI. Usar protetor auricular previne e reduz o risco? Não, o EPI apenas controla o impacto no trabalhador! O perigo (ruído) e o risco (perda da audição) continuam lá da mesma forma e na mesma intensidade.
Como atingir então o objetivo do profissional de segurança? Atinge-se fazendo 4 simples etapas.
1º Etapa: Identificar os perigos e avaliar os riscos – Antes de qualquer coisa é preciso saber em onde você está pisando! É preciso conhecer todos os perigos, os riscos associados e as situações de exposição do trabalhador.
2º Etapa: Eliminar os perigos ou reduzir ao máximo possível os riscos associados – Vejam que aqui a atuação ainda não chegou ao trabalhador. Essa ação deve ser realizada nas fontes dos perigos ou nas trajetórias que o levam ao trabalhador. Aqui é o verdadeiro trabalho prevencionista!
3º Etapa: Avaliar os riscos remanescentes e estabelecer os controles necessários – Agora sim estamos atuando no trabalhador, estabelecendo as ações necessárias para minimizar os impactos.
4º Etapa: Monitorar ao longo do tempo os controles e impactos – Por fim, é preciso acompanhar se os controles continuam efetivos e se a saúde do trabalhador não está sendo impactada.
Agora fica claro que a legislação atua apenas nas etapas 3 e 4. A legislação passa longe das etapas 1 e 2.
Para não ser injusto, em alguns momentos as NR tocam sim nessas etapas, como por exemplo, a NR-6 no item 6.3 e a NR-9 no item 9.3.5.1, mas não o suficiente. Estes itens são poucos e genéricos demais para poder se trabalhar de forma realmente preventiva. No final, as NR preocupam-se apenas em blindar o trabalhador, mas não em tratar o ambiente de trabalho.
É incrível ver a reação dos alunos quando esse paradigma da legislação é quebrado! A coisa é lógica e dissertando dessa forma é até simples, mas é incrível como o mercado não trabalha assim. Nem mesmo as empresas certificadas na OHSAS 18001, onde esse trabalho preventivo é exigido no item 4.3.1 através da hierarquia de redução de riscos, são pouquíssimas as empresas que conseguem comprovar que fizeram todo o possível para eliminar ou reduzir os riscos. Infelizmente ainda existe a mentalidade de ser mais barato fornecer o EPI, criando assim a bola de neve de que basta atender a legislação...
Então, você ainda acha que atender a legislação é ser prevencionista? Reveja seus conceitos!
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